Artigo:AGRESSÃO À PROPRIEDADE DE SI MESMO

Todo cristão deve e pode dialogar com seu Pai de maneira confiante, sem medo e sem receios. Entretanto, na base desse produtivo diálogo já foi previamente construído uma confiança mútua, de base libertária e cujo objetivo final é o conhecimento da verdade

Arnaldo B. Castro

Arnaldo B. Castro
Arnaldo B. Castro

Todo cristão deve e pode dialogar com seu Pai de maneira confiante, sem medo e sem receios. Entretanto, na base desse produtivo diálogo já foi previamente construído uma confiança mútua, de base libertária e cujo objetivo final é o conhecimento da verdade. A confiança é, sempre foi e indubitavelmente será, a base da comunhão entre duas pessoas, a substância catalizadora da verdade. Todo cristão desenvolveu sua vida, e a construirá, bebericando no cálice da confiança mútua, sem o qual o conhecimento não poderá ser construído.
Nesse sentido, o conhecimento de toda ordem é renovado ininterruptamente, ou seja, sem interrupções bruscas, como assim desejam os cristãos, ao contrário da mente de viés revolucionária. Esclarecendo, revolução tem sentido de interrupção e, por conseguinte, uma descontinuidade do conhecimento resultante da quebra da confiança no outro e em si mesmo. Isso é nefasto para a ciência, para as relações comerciais, especialmente para a educação.
A descontinuidade na busca da verdade gera, no mínimo, situações onde prevalece a inversão de valores. Essas situações maldosamente invertidas são detectadas na confusão entre valores culturais distintos: é a confusão entre sujeito e objeto, autoridade e autoritarismo, elegância e pedantismo, entre o simples e o simplório.
Embora contraditórios, não podem ser excludentes, entendendo que ambos os valores culturais são complementares e compensatórios.
Em síntese, o que se vê é a perca da liberdade individual em favor de uma pseudo igualdade coletiva – falsa, vulgar e reacionária. Por quê? Porque toda liberdade coletiva perpassa, antes, pela liberdade individual.
Um verdadeiro cristão não admite nem jamais deve se acovardar e aceitar a aquisição do conhecimento assentado no objeto em detrimento do sujeito, no simplório em detrimento do simples, na arrogância em detrimento da dialética devido o uso artificioso do autoritarismo em detrimento da verdade e da verdadeira autoridade.
Face ao exposto, a mente de viés revolucionária, diferente da do cristão, assenta seu discurso peçonhento num “valor cultural” monolítico (não dialético), pelo uso arbitrário da autoridade, com o pretexto de promover a democracia da minoria; pela manipulação do simplório, com o pretexto de prestigiar as pessoas simples. Convém alertar que democracia é resultante da dialética cultural entre os opostos e a consequente aceitação do bom senso desse conflito resultante, porém democraticamente aceito; e não a opinião enviesada de uma minoria guindada arbitrariamente ao capitel da aceitação geral por mentes de sanidade duvidosa: a mentalidade revolucionária .
Os grupos de estrutura cognitiva revolucionária não têm, como os próprios já demonstraram, minimamente nenhuma preocupação com a liberdade individual e a tão declarada igualdade coletiva, primeiro porque a liberdade individual se conquista pelo respeito à “autopropriedade”, enquanto a igualdade coletiva se anuncia no respeito à propriedade privada.
Mas o que isso tem a ver com a nossa realidade atual? Simples! O constante desrespeito à autopropriedade culmina com a implantação de regimes totalitários, como exemplo os países acima citados, e mais recente a Venezuela. A liberdade individual se assenta no conceito real, verdadeiro, tangível – o conceito de autopropriedade, que reflete a aquisição original de um objeto, sem ferir o direito de autopropriedade do outro. Ao contrário, as teorias de ideais coletivistas, negam acintosamente o direito de aquisição original de um objeto, e através de sutis normas abstratas, irreal, pois não assentam na realidade tangível e aos poucos roubam o direto à propriedade de si mesmo ao ferir o direito à propriedade privada de toda ordem. Um exemplo claro de um inquilino destruir uma casa alugada, isso depois de longa briga na justiça para não sair dela. Daí o motivo das pessoas não mais acreditarem nas instituições constituídas e a impunidade corre solta, especialmente quando se trata dos urupês dos poder. Estes solapam o patrimônio e malbaratam as verbas públicas.
Um país, cujas instituições admitem que mentes de estrutura cognitiva revolucionária e, portanto, doentias, invertem valores éticos historicamente consagrados; cujas leis sufocam a liberdade do homem de bem, mas são permissivas e lenientes com bandidos, está (o país) prestes de uma convulsão social.
O caso clássico de violação da lei é do magistrado Flávio Roberto que cuidava do processo de Eike Batista. Então aqui cabe a pergunta em quem e em que confiar? Tudo parece estar arquitetado contra o cidadão, especialmente o cristão.
A acintosa leniência das instituições constituídas quanto ao desrespeito à autopropriedade (propriedade do corpo e a propriedade extra corpo) levou Hoppe (2013, pág., 22) a concluir que

Para desenvolver o con¬ceito de propriedade é necessário que os bens sejam escassos, de modo que seja possível surgir conflitos sobre o uso desses bens. É função dos direitos de propriedade evitar esses possíveis conflitos sobre o uso dos recursos es¬cassos através da atribuição de direitos de propriedade exclusiva. A proprie¬dade é, dessa forma, um conceito normativo, concebido para tornar possível uma interação livre de conflitos pela estipulação de regras de conduta (nor¬mas) mútuas e vinculativas em relação aos recursos escassos.

Mais adiante afirma que

As pessoas não estão acostumadas a pensar em seu pró¬prio corpo como um bem escasso, mas ao imaginar a situação mais ideal que se pode esperar, como o Jardim do Éden, torna-se possível perceber que o corpo de alguém é realmente o protótipo de um bem escasso para que o uso dos direitos de propriedade, ou seja, os direitos de propriedade exclusiva sejam, de alguma maneira, estabelecidos com a finalidade de evitar conflitos (pág. 22).

Face ao exposto, não fica difícil entender os motivos da mobilização da sociedade, em 15 de março de 2015 (domindo). Em apertada síntese, devido a constante violação acintosa ao direito de propriedade, descrita acima como o direito de propriedade natural. Por conseguinte, toda e qualquer agressão ao direito de propriedade natural é uma agressão ao direito de propriedade do próprio corpo. Sendo assim, a afirmativa puramente verbalizada de proprietários e as coisas por ele possuídas, ou por pessoas que afirmam serem donas de coisas e delas tentam tomar posse sem estarem assentadas na aquisição natural do bem material é uma usurpação, agressão e violação ao principio natural do bem originalmente adquirido por outra pessoa. Com justeza de razão afirma Hope, no mesmo livro, que

Esse direito de propriedade, surgido do nada e com vínculos puramente verbais entre proprietários e as coisas possuídas, é chamado de agressivo, segundo a teoria natural da propriedade (pág. 22).

Portanto, a sociedade tem todo direito de reação a qualquer governo que, sob o falacioso pretexto de igualdade social, usurpa o direito à liberdade individual e o direito à autopropriedade, resguardado no conceito sócio-psicológico chamado de estado, mas física e objetivamente inexistente.
Quanto a governos, declarados ou não, de viés comunista, a impossibilidade, como assevera o ditado bíblico, do verbo se tornar carne é mais que evidente, entendendo que todo regime totalitário tem como verdade única os substantivos abstratos: mentira, hipocrisia e desfaçatez. Daí se pode inferir o ódio que a mentalidade revolucionária tem dos cristãos, pois estes foram durante séculos uma resistência a governos despóticos e a favor dos valores culturais ocidentais, a exemplo dos cristãos que enfrentaram o rei Jaime I, quando este tentou roubar-lhes a liberdade.

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