Dnit suspende licitação da BR-135

O lote único de pavimentação da estrada tem custo previsto de R$ 139,5 milhões. O site já tinha cantado a bola de que, outra vez, as chances de ficar tudo na  promessa não eram pequenas

Por:Luiz Cláudio Guedes

Os novos padrinhos do asfalto da BR-135 entre Manga e Itacarambi, no extremo Norte de Minas, ficaram repentinamente sem discurso para tentar convencer o eleitor de que agora, sim, o início da obra seria para valer.

O Departamento de Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) suspendeu na quarta-feira (7) a licitação para contratação da empresa que iria elaborar os projetos básico e executivo de engenharia e execução das obras de implantação, pavimentação, restauração e obra de arte especial da rodovia, promessa antiga de sucessivos governos.

O lote único de pavimentação da estrada tem custo previsto de R$ 139,5 milhões. O site já tinha cantado a bola de que, outra vez, as chances de ficar tudo na  promessa não eram pequenas.

No despacho assinado pelo servidor do Dnit e presidente da comissão de licitação para a obra, Rodrigo Gomes Rodrigues, consta a informação de que medida atende à necessidade de maior tempo para “análise e resposta do grande volume de solicitações de esclarecimentos enviados por empresas interessadas em participar do certame”.

Uma fonte do Dnit ouvida pelo site na sexta-feira (9) disse que o procedimento é mais ou menos corriqueiro e a suspensão do processo se justifica quando surgem questionamentos por partes das empresas interessadas que não foram sanadas pelo texto do edital. A autarquia, entretanto, não sabe informar quando o processo de licitação será retomado.Mas o autor destas linhas tem um palpite: o assunto não volta à pauta até o final do defunto governo do presidente Michel Temer.

A paternidade da obra na BR-135 no trecho mineiro mudou de mãos após o PT ter sido escorraçado do poder federal com o golpe parlamentar engendrado por Aécio Neves e Michel Temer, com ajuda operacional de Eduardo Cunha – o outrora todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados, agora recolhido a uma cela em Curitiba.

O asfalto que nunca chega e dificilmente chegará enquanto o país não sair dessa zica da atual crise fiscal, tem agora como ‘padrinhos’ o deputado estadual Arlen Santiago (PTB) e prefeitos correligionários da microrregião, entre eles Quinquinha de Quinca de Otílio (PPS), que atualmente esquenta a cadeira de prefeito de Manga. Arlen chegou a gravar vídeo em que chamava para si o mérito de ter conseguido a ‘autorização’ dos caciques Xakriabás, de que é aliados, para que o traçado da rodovia cruzasse um trecho da aldeia da etnia em São João das Missões. Sempre muito falante sobre o assunto, desta vez Arlen resolveu enfiar a viola no saco. Quem veio à boca da cena foi o deputado federal Newton Cardoso Jr. (PMDB), como você verá mais adiante.

Quinquinha e Arlen parecem não saber, mas têm zero influência nos desígnios que regem os bastidores dos gabinetes aqui de Brasília. Aliás, a dupla não tem influência em lugar nenhum, já que em Minas são ferrenhos adversários do atual governo. Exemplo disso é a inexistente gestão Quinquinha, que respira por aparelhos e das esmolas vindas dos raros repasses de emendas de parlamentares aliados para comprar ônibus escolar e uns tratorzinhos agrícolas.

A ‘inexistência’ política da dupla Quinquinha-Arlen, entretanto, não os impediu de bater bumbo dando garantias sobre o começo do asfalto ainda para o ano da graça de 2018, numa das muitas visitas que fizeram ao Dnit para tentar liberar a obra – uma delas na companhia do deputado baiano José Rocha (PR), esse, sim, um dos padrinhos do asfalto da BR-135, só que no trecho entre Correntina-Cocos, que, por sinal, anda bem adiantado.

Em Minas, a despeito de ter outros ‘padroeiros’, a obra não sai da fase de pré-licitação e vai ficando só na promessa. Os deputados federais Toninho Pinheiro (PP), Zé Silva (Solidariedade) e Newton Cardoso Jr., notórios paraquedistas, além Raquel Muniz (PSD), também se apresentam para a criança, mas o parto da licitação nunca não sai. Parece filho de burro.

Newton Jr., por sinal, que é do PMDB, mas joga como craque do tal Centrão, disse, em nota, que vai exigir explicações do governo federal para a suspensão do certame. “Vou cobrar a retomada imediata do processo licitatório para o início das obras”, reagiu o filho de Newtão em uma rede social, sob o argumento de que a população não pode mais ser prejudicada. Desse coqueiro também não cai coco.

Paraquedista, como deveria saber o eleitor, esse eterno trouxa, só quer voto, pago com as esmolas das emendinhas parlamentares de 20, 30, 50 mil reais. Quanto à turma do centrão, talvez agora caia a ficha de que Michel Temer já não depende dela para tocar o fim melancólico do seu triste governo, que tantas desgraças causa ao país – inclusive a prolongamento da maior crise financeira da história deste triste e arrebentado país.

Quanto ao asfalto, a população de Manga, São João das Missões e Itacarambi segue alternando as duas estações possíveis: poeira na seca e lama no inverno. Rotina que só se altera com a sina de ir às urnas a cada quatro anos sufragar os nomes da ocasião (desta vez Arlen Santiago), que irão novamente falhar em suas promessas. Passa eleição, volta eleição, nada muda e o povo do sertão continua ao deus-dar

 

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